O formato de redação escolhido por grande parte dos vestibulares, inclusive o Enem, é a dissertação-argumentativa. Esse gênero textual possibilita que o estudante construa uma tese inicial e defenda diferentes pontos de vista ao longo do texto. Separamos aqui algumas dicas para você construir um bom texto
1) Veja o tema de redação e faça uma leitura cuidadosa da prova – Essa é a principal dica e vai influenciar todo o seu desempenho. Leia e releia a proposta e os textos de apoio. Dê uma lida também nas questões da prova. Pode ser que alguma informação ajude no tema da redação. Atenção: essa etapa é essencial para que você não fuja do tema.
2) Elabore o projeto de texto e escolha uma tese – Esse é o momento em que você deve escolher a sua abordagem e os argumentos que usará para defender sua tese. Separe as ideias principais sobre o assunto em um rascunho. Na tese, escolha um tema que você domine para argumentar e expor o seu ponto de vista.
3) Faça a primeira versão do texto – Nessa etapa do rascunho, preocupe-se com o conteúdo e não com a gramática. Foque sua atenção para organizar os argumentos da melhor forma. As ideias devem fazer sentido e devem estar ligadas entre si. Um texto bem amarrado valoriza a sua argumentação e fará com que o corretor não se sinta confuso ao lê-lo.
4) Revise o texto: Agora é hora de corrigir a gramática e encontrar outros errinhos na sua redação. Caso tenha dúvida na grafia de alguma palavra, tente substituir por outra expressão. Preste atenção se não existe alguma frase sem sentido perdida pelo texto e avalie se há coerência entre as ideias.
5) Passe o texto a limpo: Finalmente, essa é a última etapa da redação. Por isso a importância de preparar seu texto em um rascunho. Respeite o limite de linhas e não coloque informações fora da área de correção.
Consultoria: Eclícia Pereira, professora de redação do Cursinho da Poli e GUIA DO ESTUDANTE Redação Vestibular + Enem
Como propor uma intervenção social na redação do Enem
A redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é avaliada de acordo com cinco competências. Cada competência vale de zero a 200 pontos e a nota final corresponde à soma dessa pontuação – podendo chegar a 1000 pontos, portanto.
Quatro desses cinco critérios envolvem, basicamente, saber escrever e argumentar bem. Mas o quinto é um pouquinho mais complicado: ele exige “elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos”.
Isso quer dizer que a redação deve não apenas apresentar uma tese sobre o tema, apoiada em argumentos consistentes, mas também oferecer uma proposta de intervenção na vida social. Mas o que isso significa na prática? O Enem espera que o estudante encontre em poucas horas uma solução para um problema complexo? Como se certificar de que a proposta apresentada seja considerada viável pela banca? Tenha em mente o seguinte:
1. A prova pede uma intervenção, não uma solução
As questões sociais apresentadas na prova são frequentemente complexas e muitas vezes históricas – ou seja, já recebem atenção da sociedade e dos governos há muito tempo. Portanto, não se espera que o candidato, no Enem, apresente uma proposta que vá resolver a situação, mas sim enfrentá-la. E essa proposta não precisa necessariamente ser original e inédita. Ela pode envolver medidas já propostas no passado ou ampliar ações já adotadas (como aumentar o valor de multas, por exemplo). O importante é que essa proposta seja apresentada com bons argumentos.
Esse aspecto é destacado pelo professor Yeso Osawa, do Curso Positivo, de Curitiba: “Proposta de intervenção não é apenas aquilo que está por ser feito. Pode ser que alguém, em algum lugar, já tenha experimentado o que você está propondo. Está aí um bom chamariz para valorizar o seu texto. É possível mencionar um procedimento já existente como aquilo que pode balizar a sua sugestão.”
2. Detalhe sua proposta
Propostas completas são fundamentais para garantir os 200 pontos, porque expressam sua capacidade de compreender a abrangência e complexidade de questões sociais e de como podem ser encaminhadas. Segundo Ana Paula Dibbern, professora e coordenadora do Cursinho Maximize, de São Paulo, “é recomendável que a proposta de intervenção social contemple mais de uma ação. Ou seja, sobre o tema da Lei Seca, por exemplo, a proposta poderia conter uma intervenção no sentido de conscientizar as pessoas (educação para o trânsito) e outra relacionada à regulação e fiscalização. Mas é preciso ser cuidadoso, já que as duas ações precisam estar detalhadas, interligadas e claras.”
Sua proposta deve conter:
Síntese – Explicite por que sua proposta interfere positivamente na questão colocada.
O agente ou agentes sociais – Quem implementará a proposta: a família, a comunidade, secretarias municipais ou estaduais de saúde, de educação, o Ministério da Educação ou da Cultura, um dos governos (federal, estadual ou municipal), as escolas da Educação Básica, as universidades, organizações governamentais?
Implementação – Como ela será feita? Por exemplo, com a adoção de um programa de governo e por meio de atendentes presenciais, como assistentes sociais ou enfermeiros; por campanhas públicas de comunicação, por campanhas educativas, com a inclusão nos livros didáticos, com distribuição de recursos como alimentos, remédios, vacinas…
Outros mecanismos – Sugerir formas de custeio demonstram compreensão dos diferentes mecanismos existentes e possíveis, como um novo imposto, verba do orçamento público, taxas sociais, criação de fundos de governo, participação da iniciativa privada, royalties de exploração do petróleo etc. Procure informar-se a respeito.
3. Respeite os direitos humanos
Desrespeitar os direitos humanos em sua redação pode zerar a sua nota. Para garantir que sejam levados em conta, no entanto, é preciso inteirar-se sobre o que são eles. Após a aprovação da Declaração Universal dos Direitos Humanos pela Organização das Nações Unidas, depois da II Guerra Mundial, outras convenções posteriores incorporaram novos direitos, como os das pessoas com deficiência, por exemplo. Procure saber mais sobre eles.
A professora Dibbern sugere que você se pergunte: “Será que a implantação de minha ideia prejudicaria ou seria injusta com algum grupo na sociedade? A realização do projeto que defendo aqui traria algum dano ambiental? Essa proposição traz argumentos contrários àqueles defendidos pelos movimentos sociais? Se a resposta for sempre “não”, provavelmente você está no caminho certo.”
4. Situe a questão nos níveis individual e social
A proibição de desrespeitar os direitos humanos na sua redação já sugere a preocupação da prova com essas duas dimensões, a do indivíduo e a coletiva, da sociedade. Isso porque inúmeras questões sociais só podem evoluir e melhorar com mudanças de comportamento das pessoas. Pense, para sua argumentação, aspectos envolvendo as duas dimensões e como sua proposta interfere em cada uma delas.
Devo colocar a proposta sempre no final do texto?
Depende. A proposta de intervenção social tem mais força quando aparece no fim da redação, desde que esteja amarrando com clareza sua argumentação. “É importante que os argumentos defendidos pelo estudante sejam coerentes entre si e contribuam na defesa do seu ponto de vista. Ou seja, as ideias apresentadas ao longo do texto devem culminar na proposta de intervenção. É mais seguro seguir o modelo tradicional de ‘introdução – argumentação – conclusão’, e inserir a proposta de intervenção na conclusão” recomenda Dibbern.
Mas não é proibido fazer uma afirmação de propostas no início da dissertação, desde que isso seja retomado na conclusão. O professor Ieso Osawa ressalva: “Seu texto pode antecipar algumas ideias com relação ao que seriam as formas de intervenção. Ao condensar tudo naquele último parágrafo, e quando são muitas coisas, há a possibilidade de que fique tudo “embolado” naquele trecho, e você corre o risco de perder unidade com a argumentação e o foco.”